Greenwashing #1: Não caia na armadilha do “sem parabenos”

Olá, pessoas lindas do lado verde da força! Como estão?

Percebi que já faz um tempinho que não trazemos aqui reflexões sobre cosméticos e consumo consciente. Já escrevemos uma série de textos falando a respeito dos ingredientes nocivos que devem ser evitados nos cosméticos. Mas hoje trazemos boas novas: vamos estrear uma nova série do blog, cujo tema será o greenwashing! (Se você ainda não leu nosso texto sobre greenwashing, corre pra ler aqui!). Tudo para ajudar vocês a escapar desse grande mal que ainda domina a indústria de cosméticos. E vamos começar a série falando do apelo “sem parabenos”, que tem se tornado cada vez mais popular.

Já falamos aqui sobre os parabenos, que é o grupo de conservantes mais utilizados nos cosméticos. Em geral, 75 a 90% dos cosméticos contêm parabenos. Os riscos à saúde trazido são cada vez mais conhecidos. Pesquisas mostram que eles estão associados a desregulação endócrina (hormonal), câncer e toxicidade ao desenvolvimento e reprodução.

Por conta disso, o apelo de “sem parabenos” na indústria tem se tornado cada vez mais popular. Basta você ir a alguma farmácia ou perfumaria para perceber que há cada vez mais produtos com um “sem parabenos” estampado no rótulo. Até as gigantes multinacionais do setor estão investindo nesse nicho.

Você, consumidor, pode até pensar que isso é bom. E é claro que é bom! Ver esse movimento de grandes empresas é um indício de que a demanda do consumidor, que se torna cada vez mais exigente, está servindo como um importante fator de mudança. Mas será que é suficiente um produto ser apenas “sem parabenos”?

O intuito desse texto não é expor marcas, mas mostrar que muitos produtos claramente “sem parabenos” ainda podem conter conservantes nocivos. Esses conservantes, apesar de não serem tão conhecidos assim, também causam inúmeros problemas de saúde. Alguns deles são até piores do que alguns tipos de parabenos, mas infelizmente ainda não é um grande apelo de marketing evitá-los nas formulações.

 

Para exemplificar, veja o texto ao lado. Ele foi retirado do site de uma marca de cosméticos de uma grande multinacional. Trata-se de um texto que descreve um condicionador. Notem como o site deixa bem claro que a formulação é livre de corantes, parabenos, silicones e tudo mais. Pela descrição, o consumidor leigo pode até pensar que a empresa tem o cuidado de evitar todas as substâncias maléficas possíveis.

 

 

 

Mas olhe a lista de ingredientes. Apesar da fórmula ser no geral bem limpa, tem dois conservantes bem problemáticos: o methylchloroisothiazolinone e o methylisothiazolinone.

Apesar de não serem tão conhecido como os parabenos, esses dois ingredientes têm uma nota bem ruim no EWG. São tóxicos ao serem inalados, neurotóxicos e podem causar alergias na pele. Por conta desses problemas, seu uso já foi proibido na Europa. O Methylchloroisothiazolinone e o Methyisothiazolinone são ingredientes ainda bem comuns em produtos aqui no Brasil. Já o encontrei em INÚMEROS produtos com o apelo “sem parabenos”, então realmente merece a nossa atenção, pois aparentemente é um conservante muito usado pela indústria pra substituir os parabenos. O que não faz NENHUM sentido, pois existem parabenos que são menos tóxicos (caso do Methylparaben e Ethylparaben que têm nota 4 no EWG) do que esses conservantes que os substituem. Calma, não estou dizendo que eles são seguros. Nota 4 ainda é ruim, mas é melhor do que 6 e 7, certo?

O produto abaixo também é outro exemplo dessa distorção. Apesar de ser sem parabenos, ele contém BHT, que também pode causar irritação e toxicidade aos órgãos. Contém também ingredientes extremamente nocivos, como o DmDm hydantoin, que é um liberador de formaldeído (extremamente alérgico), e o Methylpropional, que também pode causar alergias e é um disruptor hormonal.

 


 

 

 

 

 

 

 

Bom, esses são apenas alguns exemplos que existem no mercado. Te convido a ler os ingredientes dos produtos sem parabenos que tem por aí. Você irá se surpreender (negativamente)!

Infelizmente, a indústria de cosméticos sofre muito com os modismos, que muitas vezes só servem para enganar o consumidor. Claro que temos que comemorar que as grandes empresas estão mudando aos poucos, e que cosméticos “sem parabenos” são uma tendência. Antigamente nem se falava nisso, não é mesmo? E vivemos em um mundo capitalista, onde metade do mercado é dominado pelas 5 maiores empresas do setor. Mas a solução para essas questões não está nessas grandes empresas e sim na mão dos consumidores. Prova disso é que a iniciativa de fazer produtos sem parabenos não partiu de nenhuma delas. Elas só vão na onda das tendências de mercado, o que mostra que elas pouco se importam se estão colocando toxinas no nosso corpo ou não. Elas só se importam em aumentar seus lucros. Então, se uma pesquisa de mercado indicar que o mercado de produtos “sem parabenos” irá crescer x%, é claro que elas irão investir nisso.

Bom, espero que tenham gostado da reflexão. Nos próximos posts, abordaremos outros tipos de “greenwashing”. Aguardem!

Referências

https://cosmetologiadobem.com.br/parabenos/

http://www.safecosmetics.org/get-the-facts/chemicals-of-concern/methylisothiazolinone/

https://www.ceway.eu/methylisothiazolinone-officially-banned/

Avatar of Daniella Kakazu
Engenheira Química pela UFSCar, com pós graduação em Sustentabilidade pela Universidade da California em Los Angeles. Logo depois que terminou sua pós, começou a empreender na Jaci. Fez cursos de saboaria natural no Santo Sabão, se formou como aromaterapeuta pela Aromaflora e é certificada em Advanced Organic Skincare Science pela Formula Botanica.
Post criado 48

6 comentários em “Greenwashing #1: Não caia na armadilha do “sem parabenos”

  1. Obrigada artigos assim tao
    Ricos de informacao, nos ajudam a entender melhor e cuidar p nao cairmos nessa armadilha do CAPITALISMo! Continuem mos ensinando!!!

  2. e o propilenoglicol? faz bem ou mal? li que ele É utilizado como emoliente, solvente e veículo nas indústrias cosméticas e farmacêuticas. … O PROPILENOGLICOL por ser um produto higroscópico, tem a capacidade de absorver água e de funcionar como hidratante e umectante em formulações de produtos cosméticos. Com isso, pode hidratar a pele, protegendo-a do ressecamento. enfim… essas informações são verdadeiras? obrigada desde já! estou perguntando pois é um ingrediente de perfume.

    1. Oi, Victoria! O propileno glicol tem realmente essas funções que você mencionou. Suas funcionalidades são ótimas. Ele é muito usado também como veículo para preparação de extratos, pois ele é um excelente solvente. Os extratos glicólicos são feitos com ele. Porém, ele não é aceito na cosmética natural e orgânica, pois é um derivado de petróleo.
      Dependendo do seu processo de produção, o propilenoglicol pode estar contaminado com substâncias muito nocivas à saúde e ao meio ambiente (classificadas até como cancerígenas), como óxido de etileno e 1,4-dioxano. Mas o propilenoglicol por si só também pode ser tóxico e também causar irritação na pele.
      Leia mais sobre ele aqui: https://davidsuzuki.org/queen-of-green/dirty-dozen-peg-compounds-contaminants/?fbclid=IwAR2aFKUDbigpv-PsmpdCP8JX6AoKRbZwQlV9iWkvbwBlkCyLum9CmkNOYOg

  3. obrigado pelas informações preciosas ! ainda hoje me surpreendi com rótulos frontais enganadores, e ao me esforçar em ler as letras miúdas da composição, lá estavam os petrolatos e parabenos … 🙁

    1. Caramba… Que coisa, né? Por isso sempre falamos que o que deve guiar nossa decisão de compra não são os apelos de marketing do produto, e sim a lista de ingredientes. Fico feliz que as informações estejam te ajudando 🙂

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Posts Relacionados

Comece a digitar sua pesquisa acima e pressione Enter para pesquisar. Pressione ESC para cancelar.

De volta ao topo