Temos visto que hoje, o dia das mulheres tem sido uma data focada em rituais privados e comerciais, como envio de flores, cartões e presentes. Isso mostra o quanto essa data se transformou ao longo dos diversos anos desde quando ela foi criada.
Esse dia foi criado pelo partido socialista americano no início do século XX para lutar por igualdade política e econômica entre homens e mulheres e dedicado àquelas que lutavam por essas causas.
Apesar desse gesto parecer inócuo, ele foi na realidade muito significativo, pois os socialistas na época acreditavam que a libertação das mulheres trabalhadoras só aconteceria sob o socialismo, quando elas se juntassem aos homens trabalhadores em sua luta.
O feminismo era visto como uma causa para as mulheres de classe média e alta alcançarem seus próprios objetivos e interesses de classe, mas o movimento do sufrágio (direito ao voto) atraiu muitas pessoas da classe trabalhadora. Todas elas tinham esse interesse em comum. Elas acreditavam que o voto era um meio para o fim e não um fim em si mesmo e com isso, o movimento foi ganhando cada vez mais reconhecimento e adeptas.
A eclosão da Primeira Guerra Mundial em 1914 interrompeu grande parte da colaboração internacional que havia sustentado o Dia Internacional da Mulher e semeou profundas divisões entre as mulheres socialistas. Algumas apoiaram os sentimentos nacionalistas, enquanto outras protestaram contra a guerra e clamaram pela unidade da classe trabalhadora para além das divisões nacionais.
Apesar do fracasso durante os anos de guerra, foi uma manifestação dessa data que desencadeou a Revolução Russa e forçou a abdicação do Czar Nicolau II.
O dia internacional da mulher permaneceria um feriado comunista até o final do século XX, marcado por celebrações das contribuições feitas por mulheres pelo estado cuidadosamente orquestradas e patrocinadas pelo governo.
Depois que as mulheres alcançaram seu direito ao voto em diversos países, pós-Primeira Guerra, o movimento ao redor dessa data diminuiu muito e perdeu grande parte de seu efeito e valor e só foi recuperar seu status de ativismo pela causa das mulheres com a segunda onda do feminismo, em 1960.
Agora, as celebrações do dia 8 de março envolviam não apenas feministas, mas uma ampla variedade de ativistas de esquerda, grupos de mulheres e organizações trabalhistas, exigindo questões como igualdade de remuneração, paridade política, direitos reprodutivos e cuidados infantis.
Querendo separar essa data de seu berço socialista, a Assembleia Geral da ONU, que havia começado a celebrar o dia Internacional das Mulheres em 1975, e em oposição às práticas feministas contemporâneas de considerá-lo um dia de protesto, o classificou como “um momento para refletir sobre o progresso feito” e “celebrar atos de coragem e determinação de mulheres comuns”.
Isso mostra como é importante nos apropriarmos novamente dessa data ou, minimamente, dessa energia de protesto e luta para continuarmos a batalhar pelos nossos direitos e pela igualdade entre todos. Vemos até hoje que o movimento feminista, por muitas vezes, continua a ser dominado por mulheres cis e brancas que têm como objetivo suas agendas pessoais, mas devemos nos lembrar que nossas vivências são múltiplas e que é essencial focarmos nas necessidades daquelas pessoas que estão na base da pirâmide, oprimidas por diversos ângulos e insterseccionalidades, como identificação de gênero, classe e raça.
É extremamente importante percebermos que se uma mulher é oprimida, então ainda não há igualdade e enquanto uma parcela luta por igualdade salarial, existem aquelas que não são nem consideradas e acabam precisando realizar trabalhos marginais e focados no cuidado do lar e de crianças. Ainda há mulheres que não são reconhecidas como mulheres, como as trans. Existem aquelas que não têm sua própria terra reconhecida ou que não têm um lugar para chamar de lar, como as indígenas e as imigrantes.
É necessário que nesse momento de união e luta, todas as mulheres sejam englobadas no movimento e que todas as necessidades sejam ouvidas para que possamos, então, quebrar essas estruturas de poder concentrada nas mãos dos homens.
Referência
Origins – The Ohio State University