Greenwashing #2: Não caia na armadilha do “plástico biodegradável” ou “plástico verde”

Olá pessoal, como estão?

Conforme prometido, exploraremos mais um dos apelos que sofre greenwashing na indústria de cosméticos. Hoje falaremos sobre as soluções aparentemente sustentáveis para o plástico: o “plástico biodegradável” e o “plástico verde”.

Que o plástico é um grande problema, todos nós já sabemos. Mas e se eu te disser que o plástico verde é quase tão ruim quanto o convencional? E que o plástico biodegradável pode ser ainda pior?

Vamos então às definições pra entendermos melhor sobre o assunto em questão.

Plástico verde:polietileno (PE) verde I’m greenTM é produzido pela Braskem, empresa química e petroquímica controlada pela Odebrecht. Ele possui características físico-químicas semelhantes às do plástico convencional. O diferencial do PE verde é que ele é produzido a partir da cana-de-açúcar, uma matéria-prima renovável, ao passo que os tradicionais utilizam matérias-primas de fonte fóssil, como petróleo ou gás natural. Por esta razão, o PE verde captura e fixa gás carbônico da atmosfera durante a sua produção, colaborando para a redução da emissão dos gases causadores do efeito estufa. Ele mantém as mesmas propriedades, desempenho e versatilidade de aplicações dos polietilenos de origem fóssil, o que facilita seu uso imediato na cadeia produtiva do plástico. Por este mesmo motivo, ele é reciclável dentro da mesma cadeia de reciclagem do polietileno tradicional. Ou seja, o produto final é um plástico idêntico ao produzido a partir do petróleo. Por isso, os questionamentos existentes com relação a problemas ambientais que ocorrem a partir dos resíduos oriundos do descarte inadequado do plástico são exatamente os mesmos para o plástico comum e o PE verde.

Plástico biodegradável: Dentro dos plásticos biodegradáveis, existem os bioplásticos e os oxibiodegradáveis.

Bioplástico: Os bioplásticos são oriundos de fontes renováveis, e são biodegradáveis e compatíveis com o corpo humano. Alguns exemplos são o PLA, PHA, PBS e as misturas com amido. Feitos de matéria-prima vegetal, são realmente biodegradáveis, têm menor pegada de carbono e baixo impacto no pós consumo, já que se biodegrada em até 6 meses se for descartado corretamente. O problema é que ainda são muito caros e sem competitividade com os plásticos convencionais, não existem em todas as embalagens que precisamos (como as garrafas PET), e precisa da colheita de matéria virgem, impactando a monocultura. E o Brasil ainda não tem pátios de compostagem suficiente pra garantir o processo correto do início ao fim. Outra desvantagem é que, por serem biodegradáveis, podem ser facilmente atacado por bactérias, e com isso, não cumprir sua função de proteger alimentos e cosméticos.

Plástico oxibiodegradável: Plástico oxibiodegradável é aquele que, ao receber um aditivo pró-degradante, tem sua fragmentação acelerada por influência de oxigênio, luz, temperatura e umidade. O material realmente some aos nossos olhos, mas ele não se degrada de verdade. O que acontece é que ele vira uma “farofa de microplástico” que pode parar em rios, lagos e mares. Isso significa que nossa geração poderá beber involuntariamente plástico oxidegradável misturado à água! E mais: os fragmentos podem ser ingeridos por animais silvestres e animais de criações nas fazendas, causando sérios danos econômicos e ambientais. O plástico oxibiodegradável não atende às normas técnicas nacionais e internacionais de biodegradação.

E agora… Qual deles é a melhor solução?

O grande problema do plástico é que ele é um material que leva centenas de anos para se decompor. Além disso, reciclamos muito pouco: apenas 1,2% do que é descartado é reciclado aqui no Brasil. Por conta desses fatores e do nosso estilo de vida moderno, muito associado ao consumo desenfreado, estamos lotando nossos rios e mares com lixo plástico.

Analisando esses problemas, é fácil concluir que soluções como o plástico verde e o plástico oxibiodegradável não são a solução. O PE verde não elimina o maior problema do plástico, que é o seu grande potencial poluente causado pelo descarte. O seu processo de produção tem uma pegada de carbono menor, mas isso é extremamente irrelevante, pois o produto final continua sendo o mesmo plástico. O plástico oxibiodegradável é ainda pior, já que ele faz o nosso problema sumir aos nossos olhos, mas produz o tipo mais nocivo de plástico de todos: o microplástico. Quando vemos um pedaço plástico inteiro do mar, conseguimos retirá-lo da água, enquanto é impossível retirar as micropartículas.

E o que esses plásticos tem a ver com o greenwashing?

Vocês já devem ter visto que várias empresas fazem questão de ressaltar que as embalagens de seus produtos são sustentáveis pois são feitas de plástico verde ou de plástico biodegradável. Mas tenham em mente que esses plásticos não são sustentáveis. E que os plásticos biodegradáveis do mercado usados como embalagens de alimentos ou cosméticos são, na grande maioria dos casos, do tipo oxibiodegradável, e por isso, não são biodegradáveis de verdade. Das alternativas mostradas acima, a única que elimina o problema da poluição é o bioplástico. Portanto, devemos investir em soluções e tecnologias que tornem o bioplástico uma alternativa viável. E, claro, recusar os descartáveis plásticos e substituí-los por materiais como o vidro e metal sempre que possível.

Por isso, sempre que virem informações relacionadas ao plástico verde e o plástico oxibiodegradável, questionem! E mais que isso, cobrem das empresas soluções realmente sustentáveis, mostrem que vocês estão cientes e conscientes sobre a questão do plástico.

Bom, é isso. Espero que tenham gostado da reflexão e até o próximo post!

Referências

https://www.menos1lixo.com.br/posts/plastico-verde-existe

http://plasticoverde.braskem.com.br/site.aspx/PE-Verde-Produtos-e-Inovacao

http://www.recicloteca.org.br/consumo/conceitos-biodegradavel-e-oxibiodegradavel/

https://www.ecycle.com.br/726-oxibiodegradavel-oxibiodegradaveis.html

https://g1.globo.com/natureza/noticia/2019/03/04/brasil-e-o-4o-maior-produtor-de-lixo-plastico-do-mundo-e-recicla-apenas-1.ghtml

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Engenheira Química pela UFSCar, com pós graduação em Sustentabilidade pela Universidade da California em Los Angeles. Logo depois que terminou sua pós, começou a empreender na Jaci. Fez cursos de saboaria natural no Santo Sabão, se formou como aromaterapeuta pela Aromaflora e é certificada em Advanced Organic Skincare Science pela Formula Botanica.
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